Facebook atualiza política de dados após o caso Cambridge Analytica

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Rob Sherman, diretor Global de Privacidade, diz que é preciso desenvolver serviços em que “o uso de dados seja compreensível”

SÃO PAULO – Pela segunda semana consecutiva, o Facebook anunciou nesta quarta-feira que promoverá atualizações na rede social. Na semana passada, mudou o acesso ao controle de privacidade e, agora, atualiza os termos de uso de dados dos usuários. Depois do escândalo com a Cambridge Analytica, que usou de modo irregular os dados de 87 milhões pessoas da plataforma, a empresa de Mark Zuckerberg corre para reconquistar a confiança dos cerca de 2 bilhões de usuários.

O consentimento sobre a coleta de dados e as opções de privacidade seguirão as mesmas, o que muda é a forma com que a empresa pretende comunicar isso ao cidadão.

Queremos comunicar às pessoas de forma mais apropriada sobre como usamos suas informações e as opções que elas têm. Além de deixar a política mais clara, queremos nos comunicar com os usuários enquanto eles usam o Facebook — afirmou Rob Sherman, diretor Global de Privacidade.

A atualização nos termos de uso será uma espécie de sugestão aberta a feedbacks. Em comunicado prévio, o Facebook afirmou que pretende informar melhor que “nunca venderá informações a ninguém”, que as mantém “salvas e seguras” e que “não compartilha com anunciantes”.

O objetivo é tentar esclarecer práticas relativas à publicidade, ao marketplace (uma função para o comércio entre usuários), ao combate a atividades suspeitas na plataforma, ao compartilhamento de informações entre empresas do grupo (como WhatsApp e Instagram), entre outros.

Existe a possibilidade de o controle da privacidade ter um caráter mais dinâmico, com avisos que surgem enquanto os usuários usam a rede social, não de forma dissociada do feed de notícias, como é comum nas redes sociais.

Para Leandro Bissoli, especialista em Direito Digital do Peck Advogados, as mudanças propostas contemplam duas demandas: a de contornar o prejuízo à imagem e a de antecipar exigências da nova legislação europeia, a GDPR (General Data Protection Regulation), que entra em vigor em 25 de maio. As alterações do Facebook buscam dar mais transparência sobre o ciclo de vida de um dado pessoal, da coleta ao processamento.

Pelo que foi apresentado, o Facebook tende a ser mais amigável para o usuário no que diz respeito a ele configurar com mais clareza o que compartilha e com quem. Quando se fala em transparência, mudanças são sempre positiva – diz.

O advogado ressalta, no entanto, que transparência não é sinônimo na segurança no tratamento dos dados. Transparência, segundo ele, “ é o uso de dados conforme o combinado com o usuário”, só que incidentes que comprometem esses dados são da ordem da segurança. Bissoli lembra que os valores por descumprimento da GDPR poderão chegar a € 20 milhões ou a 4% do volume anual do faturamento das empresas.

Na semana passada, Zuckerberg informou que a rede fará mudanças no Facebook Login, a função que permite que outros sites e aplicativos funcionem integrados ao Facebook (quando o usuário entra num site e, em vez de preencher todos os campos, sincroniza suas informações clicando em um botão da rede social). Segundo Sherman, a maioria dos desenvolvedores não terá informações além de nome, e-mail e foto de perfil dos usuários. A empresa também encerrou a “Categoria de Parceiros”, um produto que permite que provedores de dados terceirizados (como a Serasa Experian, por exemplo) ofereçam sua segmentação diretamente na rede social. A empresa contava com sete parceiros.

Em artigo publicado nesta terça-feira na Electronic Frontier Foundation (EFF), uma das principais organizações globais sobre direito de usuários na internet, as pesquisadoras Jamie Williams e Gennie Gebhart repercutiram o encerramento dessa modalidade.

Essa mudança, ou pelo menos aspectos dela, quase certamente já estava em andamento antes que a Cambridge Analytica chegasse às manchetes. A semana passada foi apenas um momento particularmente útil para contar a todos sobre isso, agora que o Facebook precisa desesperadamente recuperar a confiança das pessoas – escreveram. De fato, o Facebook afirmou que se prepara para a lei há quase dois anos.

O caminho para a recuperação da reputação da oitava maior companhia do mundo é longo. Depois da instauração de uma crise de confiança, da onda de “deixe o Facebook” disseminada em outras redes sociais, e da perda de quase US$ 100 bilhões em valor de mercado, Scott Stringer, responsável pelos investimentos do fundo de pensão de Nova York, em que estão US$ 1 bilhão em ações na empresa, defendeu a saída do presidente do conselho administrativo.

Em sua segunda entrevista, dessa vez a Vox, Zuckerberg afirmou que gostaria de solucionar os problemas em três ou seis meses, mas que “vai demorar um longo período”.

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Fonte: O Globo

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