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Preço de seguro de carro para motorista de Uber sobe 24%

De acordo com corretoras online, seguro para motoristas é até 40% mais caro do que o convencional

 

Uber: não são todas as seguradoras que aceitam o risco e exposição do prestador do serviço (Cabify/Divulgação)

Por Marília Almeida

Nos últimos 12 meses, os preços de seguros de carros para motoristas de aplicativos cresceram, em média, 25%, enquanto para motoristas comuns eles subiram 5%, em média. É o que aponta um levantamento do Comparaonline, site que compara preços de seguros e outras proteções. O estudo se baseou em 2,5 mil cotações, calculadas em uma página específica para esse público no site.

Fenômeno recente no país, o número de motoristas de Uber e outros aplicativos explodiu no ano passado. Segundo dados da própria Uber, no ano passado os motoristas do app cresceram 10 vezes e somavam 50 mil no último trimestre de 2017.

Para especialistas, é natural que as seguradoras calibrem os preços das proteções dos carros para esse público em um cenário de alta expressiva da demanda, e quase quatro anos desde a chegada da Uber no país.  “Observamos que esse reajuste segue a curva de aprendizado e maior conhecimento do perfil desse motorista”, diz Paulo Marchetti, CEO do Comparaonline.

Manes Erlichman, sócio-diretor da Minuto Seguros, acredita que as seguradoras começam a ter mais informações para basear suas estatísticas. “No começo do fenômeno as seguradoras faziam um cálculo aproximado, não tinham histórico sobre esse prestador de serviço. Se os preços subiram, é porque as empresas viram que o risco é maior do que haviam estimado”.

Algumas seguradoras, no início da chegada da Uber no Brasil, precificavam os motoristas do app como um motorista convencional, diz Marchetti. “Mas ao registrarem um aumento da sinistralidade, passaram a diferenciar os custos para eles”, conta o executivo da Comparaonline.

De acordo com Erlichmann, em geral os preços de seguros para motoristas de aplicativos são de 30% a até 40% mais caros do que para motoristas convencionais. É o caso de um seguro para um Ônix Hatch Joy, que passa de 2.535,26 reais para um motorista convencional para 3.610 reais caso ele seja motorista de aplicativo, segundo simulação feita pela corretora online.

Veja abaixo algumas simulações feitas pela Minuto Seguros:

Sem aplicativo Preço Com aplicativo Preço
HB20 Comfort 1.0 12V Flex Manual 4p R$ 2.498,29 HB20 Comfort 1.0 12V Flex Manual 4p R$ 3.417,43
Onix Hatch Joy 1.0 8V Flex Manual 4p R$ 2.535,26 Onix Hatch Joy 1.0 8V Flex Manual 4p R$ 3.610,00
Novo KA S 1.0 Ticvt Flex 4p R$ 3.146,99 Novo KA S 1.0 Ticvt Flex 4p R$ 4.126,00

Para Erlichman, apesar de ser uma atividade similar às dos táxis, os padrões de roubo e furto de motoristas de app são diferentes, o que pode dificultar a precificação do seguro para eles. “Ninguém sai andando frequentemente com um táxi roubado por aí, a não ser talvez para roubar peças. No caso de carros utilizados para transportar usuários do Uber, é mais fácil que essa ocorrência aconteça e, principalmente, furtos, já que são carros aparentemente convencionais”.

Poucas opções

Além de estar pagando mais pela proteção, quem ganha uma renda extra com o aplicativo encontra poucas opções para negociar os valores.

Não são todas as seguradoras que aceitam motoristas de aplicativos, conta Marchetti, da Comparaonline. “Algumas não aceitam de maneira alguma. Outras fazem um tipo de boicote ao reajustar muito os preços”.

E as opções parecem estar diminuindo ainda mais. O empresário Bruno Longhin, 36 anos, tinha um seguro da Sompo como motorista da Uber há dois anos, mas, neste ano, a seguradora não renovou a proteção. “Tive de procurar outro e encontrei na Bradesco”.

Desde que passou a fazer o transporte de passageiros pelo aplicativo, Bruno anunciou à seguradora que era motorista de app e passou a pagar 400 reais a mais pela proteção. “Pago 1,4 mil reais pelo seguro de um Nissan Versa 2016”.

A Ituran, conhecida por oferecer proteções mais baratas, que une rastreador ao seguro convencional, já avisou os clientes de que não irá renovar a apólice. Procurada, a empresa informa que o produto está sendo reformulado e tem previsão de lançamento para junho.

Uma das seguradoras que aceitam seguros para motoristas de app é a Tokio Marine. Apesar de não oferecer umas proteção específica para quem presta esse serviço, a seguradora utilizou sua experiência com seguros de automóvel de passeio, táxis e demais tipos para atender esse público, adaptando seu questionário de perfil.

A seguradora já tem cerca de 4 mil segurados nessa modalidade, uma base que cresce de forma acelerada. Por não ter um produto para esse tipo de público, a Tokio Marine diz não ter dados de reajustes, apenas indica que o valor do seguro é maior para um motorista de app do que o de um veículo de passeio. “Os veículos de transporte de passageiros têm um quilometragem rodada bem maior e estão mais expostos a acidentes e roubos”, diz, em nota.

Para tentar diminuir o impacto do aumento do seguro, os motoristas de Uber e outros apps podem optar por proteções não tão completas, diz Marchetti. “Algumas seguradoras oferecem uma proteção menor que pode caber no bolso do prestador do serviço”. Empresas que ofereçam maior facilidade de pagamento, como parcelamento em 12 vezes sem juros, também podem fazer a despesa caber no orçamento.

O motorista de aplicativo Carlos Augusto Rehbein, 38 anos, pagava um seguro de 5,4 mil reais, dividido em dez vezes de 540 reais, na Porto Seguro. “Estava pesado demais no orçamento”, conta. Carlos nem chegou a renová-lo: encontrou um mais barato na Youse, plataforma da Caixa Seguradora. “Passei a pagar 3.360 reais, dividido em doze vezes. A principal diferença entre os dois é a assistência, que é menor no da Youse”.

Esconder a informação pode dar prejuízo

No início do fenômeno dos aplicativos, a omissão da atividade de transporte de passageiros podia até passar batida para quem queria manter o preço da proteção, mas isso não cola mais, diz Marchetti. “As seguradoras reforçaram a análise de perfil para saber qual o trabalho e fonte de renda do segurado, inclusive se alguma das empresas de aplicativos consultou o seu CPF em sistemas de recuperação de crédito.”

Caso a seguradora flagre a omissão da informação durante a perícia, depois da ocorrência do sinistro, pode negar a indenização, diz Erlichman, da Minuto Seguros. “O seguro é visto como um contrato de boa-fé. A Justiça tem favorecido as seguradoras nesses casos, pois consideram que o desconto que o segurado teve no preço de proteção é indevido por conta da omissão”.

Portanto, não há como escapar: o jeito é enquadrar o gasto adicional no orçamento. “O prestador de serviço precisa fazer contas com mais cuidado agora. Além do seguro, tem de incluir o investimento para a troca de carro, já que o app pode passar a não aceitar carros muito antigos. Muita gente também não coloca na conta do serviço a desvalorização do carro, que é a sua ferramenta de trabalho”.

Erlichman diz que uma das maneiras de economizar é verificar o preço do seguro do carro antes da aquisição e prestação do serviço. “Se vai usar o veiculo para transportar passageiros do app, é preferível usar que tenha um seguro mais acessível, consuma menos combustível e tenha manutenção mais barata”.

O empresário Bruno Longhin sempre encarou o trabalho como motorista de Uber como algo provisório. “É uma ilusão. No começo era muito melhor. Depois de um tempo começou a entrar muita gente e as despesas ficaram inviáveis. O seguro pesa, mas o que pesou foi principalmente o forte reajuste da gasolina”.

Fonte: Exame

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